quarta-feira, 13 de agosto de 2008

Texto em homenagem a Denizis Trindade (autoria de Marcelo Mourão)

Dizem os religiosos que um Deus-pai criou o homem e a mulher. E teria dado a eles funções bem distintas. Ao homem restava o trabalho e o sustento do lar. À mulher cabia ter filhos e cuidar da família.

Já os historiadores dizem que, pelo contrário, na Pré-História o papel da mulher era fundamental. No limiar da história humana instintos falavam bem mais alto. Quaisquer que fossem. Comer, beber e, claro, transar ! Mas havia um detalhe nada desprezível: sabia-se quem era a mãe, mas devido a tantas transas, nem dava pra imaginar quem era o pai. As famílias se organizavam em torno das mães. Não é à toa que o primeiro Deus a surgir na história humana é do sexo feminino: a Grande Mãe. Viviam-se, pasmem, tempos matriarcais !
Veio a organização das cidades e os homens colocaram suas mulheres sob redomas, selos, lacres. O surgimento da polis, de suas instituições e da organização social fizeram surgir o casamento. Prende-se a mulher em casa. Daí não é de se estranhar o aumento gradativo da importância dos homens: nascia o patriarcalismo !

Passaram mais de 4 mil anos e só em meados da década de cinqüenta, o papel da mulher tornou a crescer a olhos vistos. Foi um tal de invento da pílula, queima de sutiãs, leis de divórcio e inserção da mulher no mercado de trabalho entre tantas conquistas feministas. E a bem da verdade, homens e mulheres começaram mais a se estranhar e a se temer do que propriamente chegar a um entendimento maior.

Denizis resgata a FEMINILIDADE. Não é feminista e sim FEMININA. Nota sabiamente que para ser mulher emancipada não precisa combater contra seu parceiro e sim ao lado dele. Duelar ? Só se for numa cama cheirosa e macia. Local onde tanto ele quanto ela não terão medo de se amar, de se desarmar, de até inverter papéis. Não é à toa que seu parceiro nesta vida, Cairo Trindade, proclama lindamente: “ Como dizer quem come, se ambos temos a mesma fome?”
Bruxa, fada, guerreira, desvairio, santa dita por ela mesma em pleno cio. Denizis é Iemanjá bela a bailar sobre as ondas. É Iansã dirigindo ventos e tempestades. Como deixa claro em seu poema chamado “MULHER MAIOR”: “ enfrento até tempestades no deserto e em alto mar”.
Ela é nosso primeiro homenageado do sexo feminino. Dela saltam mil mulheres seja em poemas ou gestos. Nela enxergamos um pouco de Joana D’Arc, de Maria Bonita, de Madre Teresa, de Santa Clara, de Maria Madelena, de Afrodite, de Maria Antonieta, de Eva, Lilith e tb pq não de Pagú ? Em Denizis habita uma plêiade de deusas, heroínas, mães, filhas e guerreiras. E é justamente essa mulher-constelação que hoje * o POLEM traz e homenageia !

* texto lido em nossa Pelada Poética no dia 10/08/08

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