segunda-feira, 24 de agosto de 2009

19 de agosto!


aqui


nesta pedra


alguém sentou


para olha o marr





o mar
não parou


pra ser olhado


foi mar
pra tudo que é lado


(paulo leminski)


Pegue uma noite quente de inverno, coloque numa bacia de POLEM adicione um catatau de Paulo Leminski, duas porções Clauky BOOM, e regue com bastante ELLLas & os Monstros .... sabe o que vai dar?

POESIA que lava a alma, que agita, que embriaga... e une as pessoas ao seu redor, na troca, na expressão do melhor em nós! 

O inverno resolveu dar uma volta na noite em que escolhemos para homenagear o Leminski.
Onde quer que ele esteja, deve ter curtido a farra que fizemos para ele. 

Nossa aniversariante, Clauky BOOM, que em solo arrasou com seus poemas, nos presenteou, e ao próprio Leminski com uma performance intitulada "Ninguém chuta cachorro Louco".

Como falar de poesia sem citar os versos da noite?

Sem motivo
Para Cecília


 quando escrevo
sou completa
não me prendo
não me privo
quando escrevo
eu me livro
Deus me livre,
eu sou poeta!
(Clauky Boom)



wanted
 procura-se verso
vivo ou morto.
foi visto pela última vez
a roubar palavras
da minha boca
dizem as más línguas
que o verso fugiu com a rima
levou a estrofe
e ainda por cima
deixou o poema na mão
sem pé nem cabeça.
(Clauky Boom)

Razão de ser
Escrevo. E pronto.
Escrevo porque preciso
preciso porque estou tonto.
Ninguém tem nada com isso.

Escrevo porque amanhece.
E as estrelas lá no céu
Lembram letras no papel,
Quando o poema me anoitece.

A aranha tece teias.
O peixe beija e morde o que vê.
Eu escrevo apenas.
Tem que ter por quê?
(Paulo Leminski)

Poema em Linha reta


    Nunca conheci quem tivesse levado porrada. Todos os meus conhecidos têm sido campeões em tudo.
    E eu, tantas vezes reles, tantas vezes porco, tantas vezes vil, Eu tantas vezes irrespondivelmente parasita, Indesculpavelmente sujo, Eu, que tantas vezes não tenho tido paciência para tomar banho, Eu, que tantas vezes tenho sido ridículo, absurdo, Que tenho enrolado os pés publicamente nos tapetes das etiquetas, Que tenho sido grotesco, mesquinho, submisso e arrogante, Que tenho sofrido enxovalhos e calado, Que quando não tenho calado, tenho sido mais ridículo ainda; Eu, que tenho sido cômico às criadas de hotel, Eu, que tenho sentido o piscar de olhos dos moços de fretes, Eu, que tenho feito vergonhas financeiras, pedido emprestado sem pagar, Eu, que, quando a hora do soco surgiu, me tenho agachado Para fora da possibilidade do soco; Eu, que tenho sofrido a angústia das pequenas coisas ridículas, Eu verifico que não tenho par nisto tudo neste mundo.
    Toda a gente que eu conheço e que fala comigo Nunca teve um ato ridículo, nunca sofreu enxovalho, Nunca foi senão príncipe - todos eles príncipes - na vida...
    Quem me dera ouvir de alguém a voz humana Que confessasse não um pecado, mas uma infâmia; Que contasse, não uma violência, mas uma cobardia! Não, são todos o Ideal, se os oiço e me falam. Quem há neste largo mundo que me confesse que uma vez foi vil? Ó príncipes, meus irmãos,
    Arre, estou farto de semideuses! Onde é que há gente no mundo?
    Então sou só eu que é vil e errôneo nesta terra?
    Poderão as mulheres não os terem amado, Podem ter sido traídos - mas ridículos nunca! E eu, que tenho sido ridículo sem ter sido traído, Como posso eu falar com os meus superiores sem titubear? Eu, que venho sido vil, literalmente vil, Vil no sentido mesquinho e infame da vileza.
    (Álvaro de Campos)
Ontologia sumaríssima


Umas quatro ou cinco coisas,
no máximo, são reais.

A primeira é só um gás
que provoca a sensação
de que existe no mundo
uma profusão de coisas.

A segunda é comprida,
aguda, dura e sem cor.
Sua única serventia
é instaurar a dor.

A terceira é redondinha,
macia, lisa, translúcida,
e mais frágil do que espuma.
Não serve para coisa alguma.

A quarta é escura e viscosa,
como uma tinta. Ela ocupa
todo e qualquer espaço
onde não se encontre a quinta
(se é que existe mesmo a quinta),
a qual é uma vaga suspeita
de que as quatro acima arroladas
sejam tudo o que resta
de alguma coisa malfeita
torta e mal-ajambrada
que há muito já apodreceu.

Fora essas quatro ou cinco
não há nada,
nem tu, leitor,


nem eu. 
(Paulo Henriques Brito)

 Mar português


Ó mar salgado, quanto do teu sal
São lágrimas de Portugal!
Por te cruzarmos, quantas mães choraram,
Quantos filhos em vão rezaram!
Quantas noivas ficaram por casar
Para que fosses nosso, ó mar! 
Valeu a pena? Tudo vale a pena
Se a alma não é pequena.
Quem quer passar além do Bojador
Tem que passar além da dor.
Deus ao mar o perigo e o abismo deu,
Mas nele é que espelhou o céu.  


(Fernando Pessoa)

Embriagai-vos


É necessário estar sempre bêbado.
Tudo se reduz a isso; eis o único problema.
Para não sentirdes o fardo horrível do Tempo, 
que vos abate e vos faz pender para a terra, 
é preciso que vos embriagueis sem tréguas.
Mas – de quê ? De vinho, de poesia ou de virtude, 
como achardes melhor.Contanto que vos embriagueis.
E, se algumas vezes, sobre os degraus de um palácio, 
sobre a verde relva de um fosso, 
na desolada solidão do vosso quarto, 
despertardes, com a embriaguez já atenuada ou desaparecida, 
perguntai ao vento, à vaga, à estrela, ao pássaro, 
ao relógio, a tudo o que foge, a tudo o que geme, 
a tudo o que rola, a tudo o que canta, a tudo o que fala, 
perguntai-lhes que horas são; e o vento, e a vaga, e a estrela, 
e o pássaro, e o relógio, hão de vos responder:
- É a hora da embriaguez ! 
Para não serdes os martirizados escravos do Tempo, 
embriagai-vos; embragai-vos sem cessar !
De vinho, de poesia ou de virtude, como achardes melhor.
(Charles Baudelaire)


Poema do beco

Que importa a paisagem, a Glória, a baía, a linha do horizonte?
- O que eu vejo é o beco.
1933

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