sexta-feira, 10 de julho de 2009

Impressões dia 1/07/09

No dia 1/07, nosso homenageado foi Igor Fagundes, que é poeta, jornalista, ensaísta, crítico literário, ator, mestre e doutorando em Poética pela UFRJ, onde dá aulas de Teoria Literária e Literatura Comparada. Autor dos livros de poemas por uma gênese do horizonte (IV Prêmio Literário Livraria Asabeça), Sete mil tijolos e uma parede inacabada, Transversais (Prêmio Estudantes do Brasil) e do livro de ensaios Os poetas estão vivos - pensamento poético e poesia brasileira no século XXI (Prêmio Literário Cidade de Manaus 2007). Co-autor da coleção Roteiro da poesia brasileira - poetas da década de 2000 (organização de Marco Lucchesi) e da coletânea ensaística Quem conta um conto - estudos sobre escritoras contistas brasileiras estreantes nas décadas de 90 e 2000 (organização de Helena Parente Cunha). Seu novo livro de poemas, ponto zero, está no prelo e sai ainda este ano. Também em fase edição, seu próximo livro de ensaios Filosofia para poetas: a poesia da crítica. É, ainda, colaborador da Academia Brasileira de Letras e do Jornal Literário Rascunho. Possui cerca de 60 premiações em concursos literários. No teatro, ramo em que também obteve prêmios, integrou 14 espetáculos, ora como ator, produtor, diretor e/ou dramaturgo.



QUARTETOS PARA ALGUÉM “QUADRADO”

Igor Fagundes


quem vê você assim, todo certinho

contando verso a verso nos dedinhos

jamais supõe que os dez sequer dão conta

do caos que, desmontando-nos, nos monta


repare, moço: até que bem disfarça

a rebeldia de seus eus na farsa

da forma fixa, aquela que alivia

a vida fugidia (ou a asfixia?)


e o vejo aqui, no espelho masoquista

no blefe de despir quem mais se vista

e mais se perca achando se conter

em traje desbotado e demode


prossiga cínico, repita all right

a quem o acuse de sofrer no Kuait:

enquanto há bundas a abundar na praia

em verso esconde a sua sob a saia


da língua portuguesa, em que se exulta

por decorar palavra rara, culta

às vezes, fala chula quebra um galho

ao ver-se em metafórico... caralho!


– mais lírico, impossível: falo inflado

se lhe dão corda, fica derramado

então relaxe e goze sem receita

quem nasce torto nunca se endireita



NA CAMA

Igor Fagundes


ela bem longe e ao mesmo tempo sem distância

ela me toca e me retoca em mãos bem mansas

ela sussurra que sou seu com voz sacana

ela me beija, afaga, toma e não me engana

ela me quer, não por amor, mas por ganância

ela desnuda-me os lençóis, depois me arranha

ela mistura-me ao veneno de uma aranha

ela me cospe, bate, berra, me arde e sangra

ela se culpa em fingimento: nunca é santa

ela vasculha cada ruga e não se cansa

ela perfura-me na agulha e me desmancha

ela costura com silêncio a pele lânguida

ela tortura, sedutora e não com lâmina

ela é meu fim, o meio, o início: o maior drama

ela é uma fuga? cura? ou fogo que me inflama?

ela é pergunta sem resposta que me entranha

ela me estranha quando a paz na cama é tanta

ela sem dente arranca os meus e me abocanha

ela sem pés a cada noite se levanta

ela sem corpo a cada dia me acompanha

quem tem a morte não precisa de outra dama



Nenhum comentário: