No dia 1/07, nosso homenageado foi Igor Fagundes, que é poeta, jornalista, ensaísta, crítico literário, ator, mestre e doutorando em Poética pela UFRJ, onde dá aulas de Teoria Literária e Literatura Comparada. Autor dos livros de poemas por uma gênese do horizonte (IV Prêmio Literário Livraria Asabeça), Sete mil tijolos e uma parede inacabada, Transversais (Prêmio Estudantes do Brasil) e do livro de ensaios Os poetas estão vivos - pensamento poético e poesia brasileira no século XXI (Prêmio Literário Cidade de Manaus 2007). Co-autor da coleção Roteiro da poesia brasileira - poetas da década de 2000 (organização de Marco Lucchesi) e da coletânea ensaística Quem conta um conto - estudos sobre escritoras contistas brasileiras estreantes nas décadas de 90 e 2000 (organização de Helena Parente Cunha). Seu novo livro de poemas, ponto zero, está no prelo e sai ainda este ano. Também em fase edição, seu próximo livro de ensaios Filosofia para poetas: a poesia da crítica. É, ainda, colaborador da Academia Brasileira de Letras e do Jornal Literário Rascunho. Possui cerca de 60 premiações em concursos literários. No teatro, ramo em que também obteve prêmios, integrou 14 espetáculos, ora como ator, produtor, diretor e/ou dramaturgo.
QUARTETOS PARA ALGUÉM “QUADRADO”
Igor Fagundes
quem vê você assim, todo certinho
contando verso a verso nos dedinhos
jamais supõe que os dez sequer dão conta
do caos que, desmontando-nos, nos monta
repare, moço: até que bem disfarça
a rebeldia de seus eus na farsa
da forma fixa, aquela que alivia
a vida fugidia (ou a asfixia?)
e o vejo aqui, no espelho masoquista
no blefe de despir quem mais se vista
e mais se perca achando se conter
em traje desbotado e demode
prossiga cínico, repita all right
a quem o acuse de sofrer no Kuait:
enquanto há bundas a abundar na praia
em verso esconde a sua sob a saia
da língua portuguesa, em que se exulta
por decorar palavra rara, culta
às vezes, fala chula quebra um galho
ao ver-se em metafórico... caralho!
– mais lírico, impossível: falo inflado
se lhe dão corda, fica derramado
então relaxe e goze sem receita
quem nasce torto nunca se endireita
NA CAMA
Igor Fagundes
ela bem longe e ao mesmo tempo sem distância
ela me toca e me retoca em mãos bem mansas
ela sussurra que sou seu com voz sacana
ela me beija, afaga, toma e não me engana
ela me quer, não por amor, mas por ganância
ela desnuda-me os lençóis, depois me arranha
ela mistura-me ao veneno de uma aranha
ela me cospe, bate, berra, me arde e sangra
ela se culpa em fingimento: nunca é santa
ela vasculha cada ruga e não se cansa
ela perfura-me na agulha e me desmancha
ela costura com silêncio a pele lânguida
ela tortura, sedutora e não com lâmina
ela é meu fim, o meio, o início: o maior drama
ela é uma fuga? cura? ou fogo que me inflama?
ela é pergunta sem resposta que me entranha
ela me estranha quando a paz na cama é tanta
ela sem dente arranca os meus e me abocanha
ela sem pés a cada noite se levanta
ela sem corpo a cada dia me acompanha
quem tem a morte não precisa de outra dama
Nenhum comentário:
Postar um comentário