terça-feira, 10 de março de 2009

A maior pelada de todas

Bate-bola do último domingo, nas areias do leme... eu Tornaghi, Valentin , uma aula de categoria provando mais uma vez que poesia aos domingos faz bem à alma. O pontapé inicial foi esse poema meu, que divido com vocês aqui:

HUM
Uma andorinha só
não faz verão
mas uma resma
sem uma folhinha só
não é resma não!
(Louis Alien)

Seguimos trocando passes enquanto a noite chegava de mansinho, a Lua enchendo no céu. Tornaghi com seus poemas e os de Marcus Vinicius Quiroga, Paulo Leminski, os belíssimos poemas de seu pai; Newton Tornaghi, dentre diversos outros de seu maravilhoso acervo passava a bola para mim, com meus e os de Torquato, Vinícius (que no dia internacional da mulher não podia ficar de fora) sendo logo seguido por Valentin com os poemas de Pessoa em grandiosas performances.

Mas o crème de la crème foi percebermos que a brincadeira rendeu uma maravilhosa platéia dos passantes que aos poucos foram se sentando ao nosso redor, crianças brincando, casais namorando, senhoras e jovens, turistas todo tipo de gente ali com quem trocávamos cada passe. Uma delas, uma moça levantou e dividiu conosco uma fábula queniana muito interessante, que depois cato e posto aqui. Tornaghi todo orgulho de sua filhinha recitando poemas com a maior naturalidade do mundo, digna das crianças.
Enfim, tenho certeza, de quem assistiu à pelada não voltou pra casa don mesmo jeito que saiu, e esse é o maior barato da poesia, essa troca e efeito homeopático, que torna ouvintes em leitores, leitores em poetas e vice-versa!

Já que falamos de poesia, que tal alguns versos?

Mar Português
Ó mar salgado, quanto do teu sal
São lágrimas de Portugal!
Por te cruzarmos, quantas mães choraram,
Quantos filhos em vão rezaram!

Quantas noivas ficaram por casar
Para que fosses nosso, ó mar!
Valeu a pena? Tudo vale a pena
Se a alma não é pequena.

Quem quere passar além do Bojador
Tem que passar além da dor.
Deus ao mar o perigo e o abismo deu,
Mas nele é que espelhou o céu.
(Fernando Pessoa)

Menina Doce
São lindos fios d’ovos teus cabelos
Teu nariz um caju cristalizado,
Teus olhos dois bombons, dois caramelos,
Teu queixinho um perfeito bom-bocado.

Os teus braços morenos, só de vê-los,
Tem-se a impressão de pão-de-ló tostado,
Tão doces são teus lábios, são tão belos,
Que mais parecem mel açucarado.

E, se te não zangasses, eu diria
Que és, toda inteira, uma confeitaria
De petiscos contendo uma porção.

Foi por isso talvez minha querida
Que, por te olhar dois dias em seguida,
Tu me causaste enorme indigestão!

(Newton Tornaghi)

o mar o azul o sábado
liguei pro céu
mas dava sempre ocupado
(Paulo Leminski)


BIODIVERSIDADE
Há maneiras mais fáceis de se expor ao ridículo,
que não requerem prática, oficina, suor.
Maneiras mais simpáticas de pagar mico
e dizer olha eu aqui, sou único, me amem por favor.

Porém há quem se preste a esse papel esdrúxulo,
como há quem não se vexe de ler e decifrar
essas palavras bestas estrebuchando inúteis,
cágados com as quatro patas viradas pro ar.

Então essa fala esquisita, aparentemente anárquica,
de repente é mais que isso, é uma voz, talvez,
do outro lado da linha formigando de estática,
dizendo algo mais que testando, testando, um dois três,

câmbio? Quem sabe esses cascos invertidos,
incapazes de reassumir a posição natural,
não são na verdade uma outra forma de vida,
tipo um ramo alternativo do reino animal?
(Paulo Henriques de Britto)
That's all folks!


2 comentários:

Eduardo Tornaghi disse...

Muito legal cara. A seleção de poemas e o texto.
Você esqueceu de mencionar que era dia da mulher, o que pode causar problema com mais de 50% da população, mas a parte poética ficou muito legal, e o texto da noticia tá bem escrito.
muito bom.
ET

José Henrique Calazans disse...

Bom texto! E bela escolha dos poemas. Abraços.