domingo, 2 de novembro de 2008

Impressões 26/10/08

Seja por causa do bom tempo ou das eleições, o último domingo foi bastante movimentado. Quando chegamos ao quiosque, já havia um grande número de pessoas. Ocasiões como essa são sempre um desafio; é preciso saber conquistar o público. Pouco a pouco, algumas mesas começavam a prestar atenção no que dizíamos e chegavam até a aplaudir os poemas. Para isso, contribuíram em muito o talento para a interpretação de Tornaghi, a simpatia de Gutman e a emoção do Marcelo, que recitou um poema inédito chamado “Poemamilo”. Foi se desenvolvendo uma empatia tão grande com os espectadores, que um garoto chegou a pedir que recitássemos Drummond para a namorada.





Um dos primeiros amigos a chegar, quando o sol ainda estava a pino, foi o ator Valentim Fernandes. Além de sua já conhecida apresentação de “Mar Português”, de Fernando Pessoa, ele contou-nos sobre seu trabalho de artista plástico. Quando mais tarde, chegando em casa, visitei o site com seus quadros, fui tomado de assalto pela beleza em estado puro que sua mistura de cores e formas transmite, como se o autor quisesse fazer uma ligação direta entre arte e a emoção, sem a razão para servir como intermediária. Outra pessoa que se apareceu e que, embora não tenha se apresentado ao microfone, nos incentivou com seu sorriso e seu olhar de carinho, foi a cantora Jane Duboc. Marcelo Mourão, fã de carteirinha, custou a acreditar na presença dela e ficou tão feliz que deu a ela um livro do Vinícius de Moraes. Após o pôr-do-sol outros poetas foram chegando para iluminar a nossa noite. Um dos destaques da noite foi o poeta Tubarão que, entre outros poemas de sucesso, recitou “Odete Morreu”, “Alegria, alegria” e, a um pedido meu, “O Rock morreu”. Em “homenagem” a este poema de Tubarão, resolvi recitar meu poema “Anti-Pop”. Jorge Victor disse um poema sobre um retirante que decide voltar á terra natal. Clarice Linden, que possui uma interessante série de vídeos-poema, também se fez presente. Lirozinha, além de seus já famosos poemas românticos, disse inúmeros versos de nosso amigo Ricardo Reis Sant’Anna e nos surpreendeu com uma crônica. Lucky Luciano mais uma vez disse seu “Poema para evocar super-poderes”, além de um poema curto que, nas palavras de Antonio Gutman, lembrava em muito o estilo de poemas do Paulo Leminski.





O clima era tão bom que o sarau acabou se estendendo além do horário habitual. Marcelo Mourão estava num dia romântico e incentivou todos a dizerem versos de paixão. Atendendo o chamado, Louis Alien, disse “120 Decibéis”, de sua própria autoria, e um poema de Baudelaire. Luciano cantou uma música brega. Gutman falou sobre “O Amor e a Cama”. João João disse poemas romãnticos de autoria própria além do "Soneto da Fidelidade", de Vinícius de Moraes. Sydney disse um poema erótico. Mamma Giuly brindou-nos com canções em ídisch, japonês e italiano, incluindo uma versão de “Besa me mucho” em sua língua Natal. Depois, Lirozinha também se empolgou e cantou uma música em japonês. E aproveitei a deixa para dizer “sayonará” a todos, desejando uma boa semana e encerrando o sarau.




Lucky Luciano

O Planeta Terra
É uma camada bem fina
Daqui de cima
Vejo a muralha da China


O rock morreu
Tubarão

O rock virou
Um bom menino
Onde está a rebeldia?
Onde está a subversão?

Morreu, morreu
O rock morreu

O rock virou
Um bom menino
Onde está a atitude?
Onde está a contestação?
Morreu, morreu
O rock morreu!!!!!

Corpos
Lirozinha

Corpos nus,
Se tocando e
Se sentindo..
Corpos se desejando,
Corpos se abrindo..
Prazer ímpar...
Dois corpos
Em um só,
Se transformando,
Corpos, peles,
Cheiros, odores..
Amores num crescer
Incontrolável...
Se penetrando..
Deleite de prazer
De gôzo e orgasmos
Delirando...
Corpos de iguais
Também e mais,
Se realizando...
Corpos em delícias
Transformados,
Seres amados..
Unidos... vibrando...
Só os corpos
São o veículo
Que o prazer
Encontra.... do amor,
Provando...

Amor fecundo
Ricardo S. Reis

Acompanho os limites
da farsa de que fomos parte.
As ameaças de desmoronamento,
os encantos de esquina,
as tonalidades do claro/escuro.
Alimentei-me de teu corpo,
como fora de ostras,
da ambrósia da alienação.

Imaginei o despertar
em nova aurora,
tive desejo libertário
de construir roteiro
para os melhores significados.

Este amor, que tentei,
desde minha alma pequena,
no tempo presente e passado.

Quisera tivesse restado
semente, na lembrança,
apenas um encontro
sólido, terreno e profundo.

E a certeza de que, ainda
assim, teria valido a pena,
um amor tão seu, e meu, do mundo.


Nem Cara, Nem Coração
Clarice Linden

Quem vê coração
não vê cara
vê aura
mas isto é coisa rara
pois o que mais se vê
é bundão
que só tem olhos para seu umbigo
e para as estrelas da ilusão.
Não vê nem cara,
como pode ver um coração?

Pique Pega
Louis Alien

Eles dizem que a vida não é um jogo
e você acredita
mas
esqueceram de esconder os dados.
Você de novo
nem percebeu
segue o jogo,
tanto faz se
esconde-esconde ou pique-pega
mas
não seja pego
não seja pego
não seja pego
aprenda que
as regras do jogo mudam,
sempre procurando ferrar contigo,
sempre tentando te pegar,
te espremer feito laranjada cheia de gomos
contra uma parede de concreto
macia como um túmulo
não seja pego
se é que você me entende.

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