PELADA POÉTICA NO LEME

A partir desta semana, a web rádio poesia mix (www.poesiamix.com) vai ajudar a divulgar nosso blog. Para comemorar, resolvi publicar uma crônica. Espero que gostem.

Incrível descoberta

Segundo relatórios secretos da NASA, existem provas de que uma raça alienígena já se infiltrou na Terra, há muito mais tempo do que se imagina, e vive entre os seres humanos. Adaptaram-se muito bem à vida neste planeta, mas, devido à sua origem extraterrestre, possuem extrema dificuldade em se enquadrar dentro de certos rituais humanos, principalmente aqueles envolvendo interações para fins sociais ou reprodutivos. Não se sabe como eram chamados em seu planeta de origem ou se alguma outra civilização de alguma outra galáxia possui registro de sua existência. Sabe-se apenas que, aqui na Terra, eles são conhecidos como “tímidos”.


É fácil identificar um destes aliens. A começar pela postura: no geral, andam de ombros curvados e cabeça baixa, como se a atmosfera terráquea fosse por demais pesada para sua constituição física. Talvez a composição do nosso ar explique também o fato de falarem tão pouco e de, quando o fazem, sua voz soar quase inaudível. Os estudiosos ainda tentam entender, contudo, o que faz os membros desta espécie tão ariscos ao contato visual com seres da espécie humana.


Outras características são típicas dos “tímidos”. Se na maioria das situações são sérios e retraídos, quando tentam ser engraçados é comum que acabem soando ridículos. Mas, em casos extremos, podem despertar a ira da população local e ser alvo de linchamento (no sentido figurado ou literal), caso suas piadas sejam consideradas de mau-gosto ou tentem fazer graça exibindo conhecimentos avançados de física ou matemática (que, embora tenham sido cruciais para que empreendessem suas viagens através do espaço, parecem não ser devidamente apreciadas aqui neste planeta).


Tímidos não sabem dançar. Quando forçados a fazer algo mais complexo do que bater palmas ou balançar a cabeça e os pés num ritmo constante, incorrerão mais uma vez no que os ufólogos chamam de “ridiculus comportamentis” (algo que parece ser recorrente em membros desta raça). Ou, na pior das hipóteses, serão advertidos pelos bombeiros de que seu jeito desengonçado de mexer os braços deve ser mantido afastado de velas, fogueiras ou qualquer outra coisa que possa principiar um incêndio.


Pode ocorrer de um tímido se apaixonar por alguém da espécie humana. Quando isto acontecesse, seu cérebro provoca uma reação em cadeia que torna sua capacidade comunicativa com seres humanos ainda mais precária. Normalmente o extraterrestre atrapalha-se tanto na hora de se declarar que o objeto de sua paixão fica sem entender por que cargas d’água seria mais cheiroso que o sol e mais luminoso que um jardim florido. Embora, em alguns casos, seja possível que um dia a pobre criatura consiga botar o raciocínio em ordem e expressar seus sentimentos em termos minimamente compreensíveis por terráqueos. Normalmente, este dia demora tanto a chegar que o objeto de paixão já mudou de estado civil, de cidade ou até mesmo de opção sexual.


Não peçam para um tímido fazer discurso, subir ao palco ou qualquer coisa do gênero. Se alguém, em uma entrevista, disser que se tornou ator, músico, cineasta ou stripper apenas pra deixar de ser tímido, este alguém é um impostor que não sabe o verdadeiro significado da palavra timidez. Quando estes ETs se encontram no centro das atenções, suas glândulas liberam hormônios altamente tóxicos que podem comprometer seriamente a sobrevivência dos mesmos, sendo a vermelhidão, a gagueira e a perda de controle das funções motoras os primeiros sintomas de sua ação. Tímido, se pudesse, comemorava aniversário sozinho, só ele e o bolo. E sem cantar parabéns.


Cedo ou tarde, seja para obter recursos para a subsistência, melhor camuflar-se entre os terráqueos ou evitar o risco de acabar pedindo a si próprio em casamento, estes espécimes são forçados a enfrentar sua timidez. E, com grande dificuldade, conseguem se passar por humanos comuns a maior parte do tempo (embora o tal comportamento ridículo insista em se manifestar nos momentos mais inapropriados) e levar o que, em termos vulgares, seria considerado “uma vida normal”.


Ou então, passam a vida sonhando acordados, olhar perdido no céu, à espera de uma nave que os leve de volta pra casa.