quinta-feira, 11 de dezembro de 2008

Lançamento da Antologia Ponte de Versos

Este domingo, teremos uma novidade no POLEM: em vez de homenagearmos um poeta, homenagearemos uma antologia! Trata-se do livro “Ponte de Versos, 8 anos”, organizado pela poeta, tradutora e editora Thereza Christina Rocque da Motta, em comemoração aos 8 anos do sarau “Ponte de Versos”, um sarau que acontece sempre na terceira segunda-feira do mês na Livraria DaConde (Rua Conde de Bernadotte, 26 – lj.125 – Leblon – RJ) a partir das 20:30h.

E, para que você possa ter um gostinho de como é a antologia, separamos poemas de alguns dos 66 poetas que compõem o livro. Quem quiser saber mais sobre eles, pode clicar nos links logo embaixo dos poemas.


Unhas Vermelhas (Adriana Monteiro de Barros)

Em momentos de cólera
Olho minhas unhas vermelhas
E sinto escorrerem gotas de sangue
Que teimam em sujar a brancura alva do meu corpo,
Enquanto rôo minhas unhas até o vermelho do esmalte
Tornar-se o vermelho sangue, que escorre cristalino
E incolor sobre o negrume da minha alma.


http://www.almadepoeta.com/adrianamonteirodebarros.htm

Gênesis (Denizis Trindade)

a Rolando Toro criador da Biodanza

No Princípio era o Caos.
E então, veio a Luz.
A Luz se fez Verbo,
a Palavra Mágica se fez
coisa, corpo, carne.
E Deus criou a mulher,
e o homem a amou.
O céu se cobriu de Orgia,
pariram-se anjos e demônios.
E, por isso e nesse instante
e para sempre, nasceu,
soberana, a Poesia.

http://www.almadepoeta.com/denizistrindade.htm

Enigma (Cairo Trindade)

sou este ponto de espanto
no entra-e-sai – no vai-e-vem
metade de mim é quando
a outra metade é quem

parte em mim é desespero
outra parte desencanto
só sei ser múltiplo inteiro
quando eu amo – quando eu canto

tento juntar os pedaços
passos, pessoas passadas
não sei onde estão meus rastros
meu retrato mais exato

entre estes cacos e restos
nem perfil nem biografia
se me perdi nos meus versos
um dia viro poesia

http://www.almadepoeta.com/cairodeassistrindade.htm

Corpo & Alma (Laura Esteves)

Quem à minha porta bate, pedindo guarida,
entra por algumas horas,
bebe da minha água,
come da minha comida.
Quem o meu corpo toca, cheio de tesão,
fica por algum tempo,
goza com minhas carícias,
se encharca de paixão.
Quem esbarra em minha alma,
este sim, é pra vida inteira,
terá o meu amor,
o meu saber, o meu sabor

e o calor da minha fogueira.

http://www.almadepoeta.com/lauraesteves.htm

Artefato (Thereza Christina Rocque da Motta)

Da matéria prima ao arte-fato,
elaboramos gloriosos modos.

O que temos, transformamos.
O que somos é transformado.

http://www.almadepoeta.com/therezachristinamotta.htm

Sem maquilagem (Astrid Cabral)

Todos julgavam conhecê-la
há vinte anos na companhia
de marido, filhos, criadas
sem falar nos velhos cães
sentinelas de seus portões.
Até que partiu no rastro
de um sargento pé-rapado
e sem maquilagem apresentou
à cidade boquiaberta
o cavalo bravo de seu desejo
e o pássaro de sua fantasia.
http://www.almadepoeta.com/astridcabral.htm

O vampiro Ciro (Mano Melo)

O Vampiro Ciro é um vampiro muito pirado
Que é vapor lá na Favela do esqueleto
É também transador de vip-vap-o-rub
E tem uns papos assim meio pro sub
Que é como se sabe aqueles papos vampirescos
E tinha umas pessoas que entravam numa de horror
Com estes papos do Vampiro Ciro

E se cruzavam em Credo-Em-Cruz
E esta cruz tinha uma luz dentro que dava tiro
Ele atravessava toda tarde do morro pra cidade
Distribuindo sorvetes para as crianças de qualquer idade
Um sorvete na idéia fazendo a maior lambança
Se cuidando pra não sambar nessa dança de transar
Assobiava um cigarrinho na descida da favela
E vinha assombrando pelo esqueleto dela
Escola de Samba Fábrica de Anjos Favela
Rasgava os ossos dela tirava uma costela
E criava uma Maria Lata D'água na Cabeça
Mas alguns diziam que o Vampiro Ciro era um grilo
Que era um cara meio pro crocodilo
Que tava numa de mamar vaca sem mamilo
Que já estava com sangue de sorvete em pó
Transando até merda de zebu com palha de milho
Cheirando um quilo de pó com grilo de ficar só
Mas quando chega em casa e brinca com seu filho
O sangue de sorvete vai perdendo o pó
E o Vampiro CiroVira Ciro só

http://www.almadepoeta.com/manomelopoesia.htm

Currículo (Eduardo Tornaghi)

já soquei tijolo já virei concreto
já comi do bom já pastei sem teto
já passei vazio já sonhei repleto
só me falta chorar pra ser completo

já banquei o bobo me pensando esperto
já fechei a porta e ainda restei aberto
já comprei a banca - já fui objeto
só me falta chorar pra ser completo

já plantei a dor achando ser correto
já tive razão mesmo sem estar certo
já me fiz sublime - já fui abjeto

já clamei por voz no pleno deserto
já me atrapalhei com tudo que é afeto
só me falta chorar pra ser completo

http://www.almadepoeta.com/eduardotornaghi.htm

Mãos (Ana Paula Pedro)

Queria dar-te minhas mãos...
são vazias.
As linhas que marcam
não sei de onde vem.
As unhas que as protegem, roí.

Posso dar-te meu coração
antes guardado
tirando o bolor está quase intacto.
Posso dar-te meu ventre
vazio e virgem de teus toques.

Minha boca já tens
silenciando teu gozo.
Só não me peças as mãos
ao partir.
http://www.almadepoeta.com/anappedro.htm

Em cena (Bebeto Tornaghi)
Para Paula Pother

Na platéia, um rosto.
No rosto, um sorriso.
No sorriso, discreta luz.

Um sorriso...
Discreto, ninguém mais o via
Luminoso, clareava meu falar.

Eu falando do palco
Ela brilhando na platéia.
Eu no centro do palco
Ela no centro do meu olhar

http://www.almadepoeta.com/bebetotornaghi.htm

Beira-mar (João José de Melo Franco)

A inútil convergência dos astros
A precisa retidão dos mastros
Inúteis sem as saias das velas
Marinheiro sem sopro
No porto e à espera
Dos ventos que se foram
Deixando ocas as celas
Em que os pensamentos são tidos
À força de remadas
Na água não mais atravessada
Pelas mãos calosas
Em cordas de lamentos
Içamos o olhar alto à procura
Da guia de alguma anunciação
A inútil convergência dos astros
Sentinelas de futuras esperanças
Já corroídas pelas marés.

http://www.almadepoeta.com/joaodemelofranco.htm

O preço do livro é R$ 25,00 e alguns destes autores estarão presentes para autografá-lo. Compareça! Com certeza será uma belíssima festa.

Um comentário:

Anônimo disse...

fala zé!
essas poesias estão todas muito boas, mas minha preferida sem dúvida é a do genesis.
foi mal não ter aparecido, mas esse período eu tava todo enrolado...
vai ter poesia esse domingo?
abraço!